Deu na Revista Sertão: Seca na Paraíba vira sinônimo de fé; mulher furtou imagem de santo para atrair chuva
São José é um dos santos mais populares
da Igreja Católica. Segundo informações do IBGE, sessenta municípios brasileiros
carregam seu nome, a exemplo de São José de Caiana, São José da Lagoa Tapada na
Paraíba.
Por isso também é frequente nos
altares. Casado com a Virgem Maria, é padroeiro dos carpinteiros, usa barba e
está sempre com feição dócil de bom pai.
(Dona da imagem
ao lado da autora do furto)
Por outro lado o santo é o principal
alvo de furto dos sertanejos, que ainda possuem crença nas chuvas atraídas após
o desaparecimento da sua imagem. Quem conta essa história detalhadamente é a
Senhora Francisca Marques Nicolau de 65 anos.
Moradora da comunidade rural Várzea
Redonda no município de Ibiara, Nena como é popularmente conhecida furtou a
imagem de São José pela última vez em 10 de junho de 2012, ela conta que ao
esconder a imagem furtada da vizinha Josefa Joca de Santana, as precipitações
foram positivas.
Como aconteceu
Um grupo de amigas combinou com certa
antecedência o “furto” sacro. Escolhem a ladra e vítima, de onde foi retirado o
padroeiro. De acordo com o combinado o plano foi executado. Furtado, ficou o
santo em poder de Dona Nena, até que ele São José resolveu fazer chover, sendo
assim devolvido à sua verdadeira dona.
A devolução foi feita em clima de
festa, e segundo Dona Nena a proprietária da imagem não ficou enraivecida pelo
desaparecimento da imagem, mas ela relata que se Josefa Joca tivesse ficado com
raiva aí sim é que as chuvas seriam maiores.
“O furto a São José, o santo da chuva,
é uma devoção que traz a graça de um bom inverno” relata Maria Barros que é
moradora da comunidade há mais de 85 anos. Maria Barros conta também que esta
tradição vem dos seus avós e que já perdeu as contas de quantos furtos como este
de Dona Nena já realizou.
Diante desse quadro, os lavradores da
comunidade protagonizaram a tradição, que mistura ritual e fé, “a imagem deve
ficar bem escondida para que ninguém saiba o seu paradeiro” relata Dona
Nena.
Furtar o santo da igreja ou da casa de
um amigo e guardá-lo em lugar seguro até o fim da colheita, quando festivamente
a imagem é devolvida ao seu legítimo lugar, fortalece a esperança do agricultor
de que São José não vai abandoná-lo, garantindo a chuva que trará não só
esperança, mas também a tão estrada fartura.
Fonte: Revista
Sertão