68 municípios da PB não registraram assassinatos em 2012: Vale do Piancó é a 2ª região mais tranquila
Quase um terço dos municípios
paraibanos não registrou homicídios no ano passado, segundo dados repassados
nesta segunda-feira (11), pela Secretaria Estadual de Segurança e Defesa Social
(Seds).
São 68 cidades nessas condições, o que
representa 30,4% do total. Em 28 delas, a situação é ainda mais pacata, pois não
há ocorrências desde 2010.
Por outro lado, apenas três municípios
– João Pessoa, Campina Grande e Santa Rita – concentram 54% (832) dos 1.542
assassinatos de 2012.
Diferente dos grandes centros, Sossêgo,
no Agreste paraibano, pode fazer jus ao nome que carrega. Segundo a Seds, houve
apenas um registro em 2010. Desde então, mais nenhum. O prefeito da cidade,
Carlos Antônio Alves da Silva (PSD), explica que muito dessa situação tem a ver
com um trabalho preventivo feito através de uma rádio local, ouvida por boa
parte dos seus cerca de 3 mil habitantes.
“A gente tem uma rádio onde aconselha o
pessoal. A gente sabe que esses crimes estão mais relacionados à bebida, então,
fazemos esse trabalho de conscientização. É muito difícil ter homicídio aqui.
Acredito que teve um no Dia das Crianças (há mais de dois anos). De lá para cá,
mais nada”, contou o prefeito.
Apesar da tranquilidade aparente, a
situação em Sossêgo é relativa, porque, conforme aponta o prefeito Carlos
Antônio, ainda acontecem roubos na cidade. “Tivemos um recentemente contra um
posto de gasolina. Um rapaz de moto chegou, abordou o senhor e roubou cerca de
R$ 400”, relatou.
Por outro lado, o problema está no fato
de que a cidade, de acordo com o prefeito, nunca contou com um delegado próprio
e não tem uma delegacia em funcionamento. “O delegado que a gente tem é de Barra
de Santa Rosa, Cuité e Picuí. Mesmo assim, é muito difícil da gente encontrá-lo.
Já tive contato com a Secretaria (Seds), fiz solicitação quando assumi, em 2009,
mas nunca atenderam”, lamentou.
“Até de porta aberta se
dorme”
Em Riachão do Bacamarte, município do
Brejo paraibano com 4.264 habitantes, conforme dados do IBGE, a população dorme
tranquila. Os moradores relataram que é comum as crianças brincarem nas ruas até
às 22h, enquanto os adultos conversam nas calçadas. O último homicídio
registrado na cidade aconteceu em 2011, quando um agricultor matou a própria
irmã por conta de uma disputa de terras. Este ano, apenas um inquérito foi
aberto na cidade, por embriaguez ao volante.
Conforme os dados de inquéritos
policiais de Riachão, revelados pelo escrivão Humberto Maia, foram dois
homicídios registrados entre 2009 e 2011, mas, ainda assim, envolvendo brigas
familiares e disputas de terras.
Sem prédio para
delegacia
Após contato com a reportagem, a
delegada geral da Polícia Civil, Ivanisa Olímpio, reconheceu que Sossêgo não
possui uma delegacia em funcionamento, tendo em vista que o prédio-sede está em
péssimas condições. Entretanto, garantiu que iria solicitar urgentemente ao
delegado responsável pela cidade que procurasse uma casa que pudesse ser
alugada, para abrigar a delegacia municipal.
Ivanisa afirmou ainda que, assim como
já está sendo feito em outros municípios, iria estabelecer contato com o
prefeito, para verificar a possibilidade de cessão de um terreno municipal, para
a construção do prédio definitivo. “Faremos isso em todas as sedes. Onde estiver
em condições precárias, estaremos buscando parcerias com as
prefeituras”.
Mapa: PB é 3º
melhor
Dados do “Mapa da Violência 2013 –
Mortes Matadas por Armas de Fogo”, divulgado na semana passada, já adiantavam
que a situação na Paraíba é a terceira melhor entre os Estados do Nordeste,
levando em consideração dados de 2010. Embora o Estado apresente a quinta maior
taxa de homicídios no País por armas de fogo (32,8 mortes para cada 100 mil
habitantes), 62 cidades (27,8%) não tiveram nenhum registro de assassinatos em
2010, ano utilizado como parâmetro na pesquisa. O percentual é o terceiro melhor
entre os Estados nordestinos, ficando atrás apenas do Piauí (52,6%) e do Rio
Grande do Norte (30,5%).
O mapa, organizado pelo Centro
Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), revelou ainda que a Paraíba
também é o quinto Estado do País com o maior crescimento de homicídios causados
por armas de fogo em uma década. Enquanto em 2000 foram 397 mortes, o número
subiu para 1.234 em 2010, avanço de 210,8%. Entre as capitais, João Pessoa é a
segunda com a maior taxa de assassinatos: 71,6.
Tranquilidade em
Riachão
Para a aposentada Severina Maria da
Conceição, 62, que mora no município há 40 anos, não há melhor lugar para se
viver. “Eu fico aqui sentada na minha cadeira de balanço na frente de casa o dia
todo. É sempre assim, gente andando na rua, crianças brincando. Uma maravilha”,
afirmou. A estudante Soraya Barbosa, 12, garantiu que se reúne com a turma para
jogar bola na frente da igreja, quase todos os dias. “Aqui não perigo pra gente
não. Até de porta aberta se dorme. Todo dia a gente vem para cá
jogar”.
O baixo índice de criminalidade é
atestado também pela dona de casa, Joselita Maria dos Santos, 23. “Quando a
gente sabe que aconteceu algum crime, até se espanta”, falou.
Cidade não tem
delegado
Apesar de tranquila, Riachão do
Bacamarte não tem delegado de Polícia Civil em tempo integral atuando no
município. A cidade é guarnecida pela Delegacia de Ingá, distante 7,5 km, que
conta com um delegado, um escrivão e dois agentes de investigação, e por um
posto da Polícia Militar, com dois policiais por plantão. Os moradores também
atribuem a boa segurança à ausência de grandes eventos na cidade. “Aqui não tem
essas festas grandes, que atraem multidões. É uma cidade pacata. Praticamente
todo mundo se conhece”, completou o funcionário público Diomedes
Santos.
Jornal
Correio