Morre a professora Laura Araújo, um dos grandes nomes da educação de Itaporanga: Veja

Itaporanga perdeu na madrugada desta sexta-feira, 11, um dos seus maiores expoentes na educação. A professora Laura Araújo faleceu à meia-noite, no hospital local, aos 82 anos, deixando um legado educacional importante e imorredouro: a escola que ela criou décadas atrás continua pelas mãos de suas filhas.

O corpo da professora está sendo velado na sua residência, localizada ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, e o sepultamento será às 16h, no cemitério Mãe de Misericórdia, em Itaporanga.

Tia Laura, como era carinhosamente chamada, nasceu em Serra Branca, atualmente município de Santana dos Garrotes, mas aos oito anos veio morar em Itaporanga, onde, após sua aposentadoria no setor público, fundou um dos mais importantes colégios de educação infantil da Paraíba: o Instituto Educacional Santa Mônica.

Tia Laura era filha da dona de casa Alexandrina Araújo e do agricultor e ex-vereador Adauto Antônio Araújo, que dá nome ao parlamento mirim itaporanguense. Viúva, ela deixa cinco filhos, quatro dos quais mulheres.

No dia 25 de agosto de 2009, em sua edição impressa 155, a Folha do Vale publicou uma matéria sobre a trajetória pessoal e profissional da educadora. Veja a íntegra da reportagem:
A obra educacional de Laura Araújo

A história da professora Laura Araújo e a história da educação de Itaporanga durante quase todo o século vinte mostram-se tão intrínsecas que, ao repórter, parece impossível falar de uma e não tratar da outra. Ambas se reclamam e se unem de tal forma que se torna ingênua e vã a tentativa redacional de separá-las.

Grande parte dos itaporanguenses e boaventurenses alfabetizados e instruídos nas últimas cinco décadas do século anterior passaram pelas mãos, ou melhor, pela palmatória de Laura Araújo. “Eu sempre fui rígida com meus alunos, mas também sabia agradá-los e discipliná-los, e meu método sempre foi eficaz para fazer o aluno aprender ler rápido”, comenta sorridente a professora, que no dia 15 de novembro próximo fará 79 anos, mas a lucidez e o carisma não envelhecem no rosto da educadora.

Filha da dona de casa Alexandrina Araújo e do agricultor Adauto Antônio Araújo, um dos primeiros presidentes da Câmara Municipal de Itaporanga e que dá nome ao legislativo, Tia Laura, como era tratada pelos seus alunos, nasceu em Serra Branca, hoje município de Santana dos Garrotes, e “foi lá onde eu conheci as letras, com o professor Miguel Madeiro, e não era fácil conseguir professor naquele tempo, mas meu pai, apesar de ser um homem analfabeto, sempre deu oportunidade aos filhos para estudar, e dizia: eu sou analfabeto, mas vou deixar o meu nome; façam também o nome de vocês”.

Laura Araújo seguiu à risca o conselho do pai e cravou seu nome na história da educação de Itaporanga, mas precisou vencer muitas batalhas para alcançar tudo o que conquistou em um tempo em que o ensino era um privilégio de poucos, mas, ao mesmo tempo, um desafio que poucos conseguiam vencer, mesmo os mais abastados. Ela chegou à cidade com oito anos e no momento em que Itaporanga ganhava sua primeira grande escola pública: o Dom Vital, hoje Semeão Leal. Foi uma feliz coincidência, mas não a única: quando deixou o Semeão foi o tempo em que nascia o Padre Diniz, a primeira escola secundária do município e uma das primeiras de todo o interior paraibano.

A escola chegou por obra das Irmães Missionárias Carmelitas no final da década de 40 com o objetivo de formar professoras dada a carência de educadores, naquela época, nesta região. Na foto da primeira turma de normalista de Itaporanga, diplomada em dezembro de 1949, aparecem 17 rostos femininos em preto e branco: um deles é o de Laura Araújo. Ela se emociona ao falar desse tempo pela lembrança de algumas de suas amigas e companheiras de formatura, entre as quais Adália Nitão, Emília Brasilino e Maria Nazaré Lima, falecida este ano: “Nazaré foi uma grande professora e muito minha amiga: eu senti muito sua morte”.
A missão de educar

Depois de formada, a professora Laura passou a dar aula particular: montou uma escola onde hoje é o prédio da Telemar/Oi e encaminhou à educação centenas de itaporanguenses. Depois foi contratada pela Prefeitura de Boa Ventura para dar aula no sítio Nazaré, onde lecionou durante uma década.

“Eram120 alunos e eu dava conta de tudo sozinha: eu recebia crianças e jovens de todo canto e muitos vinham de sítios distantes e até de outros municípios, como Diamante”, comenta a professora, que, posteriormente, passou a trabalhar pelo Estado e voltou a Itaporanga, onde lecionou no grupo Lindolfo Ramalho.

A aposentadoria não foi o fim de sua trajetória educacional, mas o começo da concretização de um sonho: em 1981 fundou o Instituto Educacional Santa Mônica. O nome que deu à escola é uma homenagem à santa de sua devoção e ao clube de mães que presidiu durante muito tempo e que tinha a mesma denominação.

Laura Araújo lecionou em seu instituto até 87. Deixou a sala de aula, mas não a escola, que é dirigida por duas filhas (Verônica e Ritinha). “Essa escola é minha grande realização de vida, é um orgulho para mim, porque educação é uma fonte santa”, enfatiza. E para amenizar a saudade do tempo em que dava aula, de vez em quando ela entra em uma sala para aconselhar os alunos e rezar com eles. Sua casa fica dentro da escola e esse contato diário com a criançada é para “vovó Laura” um grande prazer: “É a melhor felicidade da vida”.
Educadora por vocação

Viúva há 16 anos do agricultor Manoel Sabino de Araújo, Laura Araújo teve cinco filhos: um homem e quatro mulheres, três das quais seguiram os passos profissionais da mãe. “Mas eu queria era que todos fossem professores”, diz a educadora, cuja maior preocupação sempre foi fazer com que nenhuma criança ficasse fora da escola, a começar pelos próprios filhos e sobrinhos. Não pôde educar o mundo inteiro, mas fez sua parte na instrução de milhares de vidas durante meio século de lições bem dadas: do ensino antigo ao moderno; da palmatória aos métodos mais evoluídos de motivação para a aprendizagem.

Laura Araújo não é eterna, mas a obra educacional que ergueu é imortal. Seu legado é uma árvore frutífera, que continuará derramando sementes de saber por muitas gerações. Plantar uma escola é uma contribuição indiscutível para o bem social.


Folha do Vali
Tecnologia do Blogger.