Matou o pai para ficar com herança

Oito meses e 18 dias. Esse foi o tempo que durou a versão de um filho sobre as causas que levaram o pai à morte. Em 2 de setembro do ano passado, o carro dos dois pegou fogo numa área rural do Gama. Com queimaduras de 2º e 3º graus no corpo, Francisco Justino Ferreira, 58 anos — dono de duas importantes empresas do ramo de laticínios, 20 fazendas e alguns imóveis —, morreu em virtude dos ferimentos. O filho primogênito, Helvys Humberto Pereira Ferreira, 31, teve parte das pernas e das mãos atingida pelas chamas. Mal recebeu alta do hospital, ele reivindicou a herança. Não contava, no entanto, que a versão apresentada por ele seria investigada e desmontada pela polícia. Agora, Helvys é acusado de ter orquestrado a morte(1) de Francisco.

O crime ocorreu por volta das 16h de 2 de setembro de 2009, na Gleba B, em Ponte Alta do Gama. Na época, Helvys Ferreira explicou que o fogo começou porque o pai havia acendido um cigarro enquanto limpava o para-brisas do veículo — um Corsa, de placa NKO 1350-GO, de propriedade de uma das filhas do empresário.

Helvys foi detido na manhã da última quinta-feira. Ele estava numa padaria perto de sua nova residência, no Setor Sudoeste, quando os policiais anunciaram a prisão. Ao ser questionado sobre o motivo, o delegado que comandou a ação foi incisivo. “Você está sendo preso porque é acusado de matar o seu pai”, disse Francisco Duarte, titular da 20ª Delegacia de Polícia (Gama Oeste). Apesar de os laudos do Instituto de Criminalística (IC) apontarem contradições sobre alguns pontos das versão de Helvys, ele continua negando a participação no crime e está em uma cela provisória no Departamento de Polícia Especializada (DPE).

Cinto de segurança

A primeira dúvida levantada pela polícia sobre a história narrada por Helvys se referiu a quem conduzia o veículo no momento do acidente. “A marca do cinto atravessava do ombro direito para o esquerdo, na altura da cintura. Apenas uma pessoa sentada no banco do passageiro poderia ter aquele sinal”, explicou Francisco Duarte. “Ele queria comprovar que o pai havia ido para Ponte Alta do Gama por conta própria, pois o local fica perto da casa onde mora um amigo da vítima”, disse o delegado. “Porém, esse amigo não falava com o empresário havia muito tempo por conta de uma dívida.”

Segundo Helvys, Francisco Justino teria vindo de Goiânia para conhecer os pais da noiva do filho. No caminho, o pai teria se deslocado para visitar o tal amigo. O acusado, no entanto, foi desmentido pela própria mulher, Renata Cardoso Ferreira, 24 anos. Em depoimento à polícia, ela afirmou que os pais nunca estiveram na capital federal. A contradição fez com que as suspeitas em relação ao crime aumentassem. Mas a prova fundamental que suscitou a desconfiança dos investigadores foi a filmagem do momento em que o veículo pegava fogo.

Com um aparelho celular, um policial militar gravou a cena. “O PM disse que viu um homem com o corpo em chamas sair do banco do passageiro e rolar no chão. Em seguida, ele testemunhou o motorista chutando a vítima, que estava caída”, afirmou o delegado Duarte. As imagens estão sendo analisadas pelo IC. “Ao pedir socorro, o policial dizia se tratar de uma execução”, completou. Questionado sobre a cena gravada pelo aparelho, Helvys negou que tenha chutado o pai. “Ele afirmou que tentava apagar o fogo utilizando terra”, relata o chefe da 20ª DP. O carro, o cenário do crime, está nas dependência da unidade.

Sigilo

As queimaduras em Helvys e na vítima levantaram as suspeitas dos policiais. “Como o Francisco poderia ter as costas e as nádegas queimadas se ele estava sentado no banco e o fogo veio da frente?”, destacou. “Para nós, o filho dopou o pai, o levou para o Gama e ateou fogo nele”, arrisca o delegado. “A queimadura nas mãos de Helvys também é uma evidência de que ele tentou prender o pai no cinto.”

Ao quebrar o sigilo telefônico de Helvys, a polícia flagrou uma conversa dele com a mãe, que está nos Estados Unidos. “Ela tinha combinado de arranjar um casamento com uma cidadã norte-americana para conseguir o green card — visto de permanência — e fugiria. Então, resolvemos pedir a prisão dele. Agora, ele terá de responder ao processo na prisão”, disse. O motivo do crime, segundo o delegado, seria a herança do pai. Apesar da prisão de Helvys, o caso ainda não foi encerrado. Para Francisco Duarte, Helvys pode ter contado com a ajuda de outra pessoa.

1 - Motivo torpe

Helvys Humberto Pereira Ferreira foi indiciado por homicídio qualificado — com o agravante de o motivo do crime ser torpe e por não ter permitido à vítima (o próprio pai) chance de reagir. Se for condenado, ele pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.

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