Situação de emergência: seca atinge 390 mil paraibanos

Aproximadamente 390 mil paraibanos já sofrem os efeitos da seca, em 73 municípios que decretaram situação de emergência, no Sertão e até em áreas de plena Zona da Mata. Segundo a Defesa Civil Estadual, 130 cidades da Paraíba estão sendo abastecidas por carros-pipas, entre elas, Pilar e Rio Tinto, localizadas na Zona da Mata, mas que vivem altas temperaturas e sofrem com a escassez de água como se fossem regiões do Sertão. A Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (AESA) inicia hoje uma Campanha de Fiscalização para o uso racional dos recursos hídricos e a proteção dos mananciais da Paraíba. Alguns deles, como o açude Boqueirão, estão sendo poluídos e isso ameaça a saúde de milhares de pessoas no Estado.

Ontem, o Correio trouxe duas reportagens falando sobre os efeitos das mudanças climáticas na vida de paraibanos e sobre a poluição das águas do açude Boqueirão (Epitácio Pessoa), que ameaça a saúde de cerca de 500 mil pessoas, em 18 municípios abastecidos por esse reservatório, o 2º maior do Estado.

A segunda matéria mostrou também que 50% desses municípios registraram (de 2008 até agosto) internações de crianças e adultos com cólera, entre eles, Campina Grande, Boqueirão e Queimadas. A primeira matéria mostrou que a temperatura média da Paraíba já aumentou até 2 graus em diversas regiões (do Sertão à Zona da Mata) e a tendência com as mudanças climáticas é que as temperaturas se elevem mais e a chuva fique cada vez mais escassa. Isso deixará a Paraíba mais vulnerável a doenças como cólera, diarreias, dengue, leptospirose e à mortalidade infantil.

Entre as soluções apontadas por pesquisadores e especialistas da Paraíba e de outros Estados do País para enfrentar a seca, os efeitos dessas mudanças e reduzir os prejuízos com internações e doenças foram: armazenar a água das chuvas em cisternas e evitar usar poços artesianos, reflorestar áreas, preservar e não poluir os recursos hídricos já existentes e investir mais em saneamento básico.

Segundo o diretor técnico da Aesa, Laudízio Diniz, a Campanha de Fiscalização vai ser iniciada pela Região Metropolitana de João Pessoa, com o objetivo de proteger os mananciais, evitando o desperdício e garantindo ao usuário o acesso à água de qualidade. “Vamos visitar os maiores usuários, que utilizam água de poços, como shoppings, hospitais, estabelecimentos comerciais e condomínios, fazendo um trabalho de fiscalização e conscientização para o uso racional”, informou Laudízio Diniz.

O geógrafo e professor de Planejamento e Gestão Geoambiental da UFPB, Paulo Rosa, fez um alerta para que as águas das chuvas sejam captadas através de telhados de prédios públicos e casas, para que os poços sejam preservados, porque guardam “águas estratégias”, que só deveriam ser utilizadas no futuro em casos emergenciais. “A água de poço artesiano não deveria ser mexida porque é um recurso futuro. A sua retirada é um problema sério. As águas do subsolo são estratégicas e quando acabar é difícil voltar”, afirmou.

162 municípios perderam lavouras

De acordo com o gerente operacional da Defesa Civil do Estado, Antônio Cavalcanti de Brito, dos 73 municípios que decretaram situação de emergência pela estiagem, 14 são da região do Agreste, 40 do Sertão, 17 do Cariri e Seridó e dois da Zona da Mata (Pilar e Rio Tinto). “Este ano, 162 municípios paraibanos recebem o Seguro Safra, por perda da lavoura. Um grande problema é a distribuição das chuvas, que é irregular. Em Pedra Lavrada, por exemplo, choveu mais de 200 milímetros em apenas 48 horas (entre 23 e 24 de outubro)”, comentou.

800 mil não têm água tratada

Na Paraíba, mais de 800 mil pessoas não têm acesso à água tratada ou consomem água sem o tratamento adequado. Por causa disso, a Paraíba tem registrado todos os anos milhares de internações por doenças de veiculação hídrica, como diarreias e cólera, gerando prejuízos aos cofres públicos. Segundo dados divulgados, em setembro passado, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/Pnad 2009), aproximadamente 833 mil paraibanos vivem em domicílios sem acesso à rede geral de água. No município de Boqueirão, mais de 100 famílias que moram na Vila do Sangradouro, vizinhas ao açude Epitácio Pessoa (Boqueirão), fazem parte dessa estatística. Elas bebem água sem tratamento. Há mais de quatro meses falta até o hipoclorito de sódio (cloro), que é fornecido pelo Ministério da Saúde.

Apesar de viverem a alguns metros do 2º maior reservatório do Estado, as famílias não têm água tratada nas torneiras. A água é retirada do açude através de uma bomba e armazenada em uma caixa d’água, que é distribuída para as casas. Mas o Boqueirão foi transformado em um verdadeiro “mar no Cariri” e suas águas estão sendo poluídas por esgotos de casas localizadas em ilhas dentro do reservatório, banhistas e agrotóxicos usados nas lavouras cultivadas próximas às suas margens. Crianças adoecem com frequência com diarreia. “Meu filho, de 3 anos, vive doente. O médico disse que era por causa da água”, revelou a moradora Rosicleide Santos de Almeida.

A agente de saúde Maria de Fátima Santos Cavalcante, que realiza um trabalho preventivo na comunidade, informou que o único tratamento que a água recebe é o hipoclorito de sódio (cloro). Mas confirmou o que as famílias informaram. “Faz mais de quatro meses que está faltando. Quando encontramos crianças com diarreia, se no segundo dia não houver melhora, encaminhamos para o hospital”, informou.

Fonte: Portal Correio

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