Mensagem de Domingo: pelo o Padre Djacy Brasileiro



QUERO GRITAR


Diante de tanta injustiça, miséria, fome, violência, desemprego, corrupção generalizada e tantos outros males, que agridem a dignidade dos filhos de Deus não posso, como pastor de rebanho, ficar calado, acomodado, como se nada estivesse acontecendo. Seria, sem sombra de dúvida, pecar por omissão. E até porque sou padre dentro desse contexto hodierno, marcado pela cultura da morte. Então, ou grito combatendo esse mal ou me calo, aceitando tudo passivamente, numa demonstração de fraqueza, de comodismo e covardia.

Sou padre numa região, o sertão, onde o povo pobre clama todos os dias por dignidade, por vida. E o grito desses filhos sofridos chega aos ouvidos de Deus Pai: Eu vi, eu vi a aflição de meu povo... e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. “Sim, eu conheço seus sofrimentos”.(ex.3,7...) Disso não tenho dúvida. Então, qual é minha missão de padre? Ficar no bem bom, sem nenhum compromisso com a libertação desses filhos sofridos? Não estar nem aí, como diz a música: “to nem aí, tô nem ai”? É estar preocupado com status, com honrarias, de ser chamado de reverendíssimo? De estar nas primeiras cadeiras, de viver abafando com palavreados bonitos? Preocupado com enfeites, com celebrações barulhentas para impressionar e ganhar aplausos, presentes, ser admirado e taxado de santo? Que o Deus da vida me livre de tal intento. Sinto-me chamado por Deus para assumir coerentemente o Evangelho, num contexto onde a vida dos pobres não é valorizada, amada, defendida.
Pelo contrário, os pequenos são tratados como massa de manobra, sempre enganados, ludibriados em seus direitos inalienáveis. Para isso, tenho que ser coerente com minha fé cristã, com o Evangelho e com minhas pregações. E é em nome dessa fé, que grito contra tudo aquilo que oprime, que denigre, que arrasa, que maltrata, que mata. Neste artigo tão simples, elaborado não por intelectual, até por que não o sou, grito pungentemente: vamos lutar contra os males que tomam contam desta região e consequentemente, fazem sofrer o povo bom e trabalhador deste pedaço de chão nordestino.

A cruz da dor, da desolação, da falta de perspectiva de vida melhor faz parte do cardápio dessa gente sertaneja. Por isso, tenho que gritar sem medo e covardia: Lutemos no sentido de acabar com as causas te tanta fome, miséria; vamos libertar o povo da alienação política e religiosa; vamos erradicar de nosso meio os políticos corruptos, oportunistas; lutemos contra a corrupção nos poderes executivo, legislativo e judiciário; acabemos com a praga no nepotismo, do assistencialismo, dos engodos, das mentiras; Digamos um não à elite arrogante, poderosa, prepotente, que tem o poder político e econômico como seu deus e que faz das esmolas sua grande ação, como se fosse cristã. Não podemos ficar calados, de braços cruzados, pois, sabemos que tudo isso contribui enormemente para o sofrimento e desespero do povo de Deus. Nesse sentido, temos que lutar, pois, milhares de irmãos nossos estão morrendo aos poucos. Vamos ser mais cristãos, mais humanos, mais solidários.
Nós que somos pastores ou não, assumamos, incondicionalmente, o Evangelho de Cristo, não fiquemos só na teoria, na reza, nos palavreados, no mero devocionismo. Ouçam o que diz o Senhor através do profeta Isaías: “este povo honra-me com os lábios, mas seu coração estar longe de mim”. Vamos pisar no chão da vida, descer dos nossos tronos, despojando-nos das nossas vaidades, dos nossos desejos de status; deixar de pensar em grandeza, em casas luxuosas, imponentes com seus muros altos a custa das galinhas dos pobres. Vamos ser mais povo, pé no chão. Nada de fé desencadernada, alienante, a - histórica. Combatamos, afinal, as causas de tanta miséria que agride a dignidade dos filhinhos de Deus.

Vem-me a sede danada de gritar, de berrar. Pois não me conformo com essa realidade de vida, que faz sofrer meus irmãos do sertão. Por isso, peço sempre a Deus a graça da coragem para brigar, lutar, por esses meus queridos irmãos. Não posso ficar apático, mesmo que isso me custe desprezo, critica maldosa, ironia. Vou gritar, brigar em defesa do povo pobre do sertão, pois recebi de Deus esta missão e sinto-me na obrigação de cumpri-la, mesmo que não agrade a muitos.

No momento tenho uma missão a cumprir: defender a todo custo, o projeto de transposição de águas do rio São Francisco para os quatro estados do nordeste setentrional. Dessa luta, acompanhado da minha histórica e significativa cruz de latas, não arredarei, vou até as últimas conseqüências. E espero com isso, que os pobres sejam, de fato, os grandes beneficiados.
Quero morrer gritando em defesa dos meus irmãos sertanejos.

Padre Djacy Brasileiro
Pároco em Lastro e Santa Cruz/PB


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